O Gol como Metáfora na Gestão Corporativa

Nos anos 1960, iniciei minha formação como jogador de futebol, experiência que se intensificou na década de 1970, quando transitei das categorias juvenis para o profissional. Foi nesse período que compreendi, de forma vivencial, o verdadeiro sentido de coletivo. Aprendi na prática o valor do entrosamento, da escuta ativa, do posicionamento tático e, sobretudo, da confiança nos companheiros. Hoje, depois de décadas de atuação na gestão pública e corporativa, percebo o quanto aquela vivência esportiva continua atual — e simbólica — para o mundo organizacional. A metáfora do gol, nesse contexto, nos ajuda a compreender processos de liderança, trabalho em equipe, tomada de decisão e alcance de resultados. No futebol, o gol é a culminância de um processo coletivo. Raramente acontece por acaso. Ele exige articulação, visão estratégica, domínio técnico, comunicação clara e, acima de tudo, sinergia. No ambiente corporativo, o “gol” pode ser traduzido em metas alcançadas, projetos concluídos, serviços entregues com qualidade. E, assim como nos gramados, esses resultados só são possíveis com disciplina, preparação e senso de equipe. Um erro comum nas organizações é supervalorizar o “artilheiro” — o executivo que aparece na linha de frente — ignorando o trabalho de bastidores: o planejamento, a retaguarda técnica, os setores que atuam longe dos holofotes, mas garantem a base do sucesso. No futebol e nas empresas, a vitória exige o esforço de todos. A liderança, por sua vez, se assemelha à função do técnico: alguém que conhece os potenciais individuais, reposiciona peças quando necessário e inspira confiança. Um bom gestor sabe que, às vezes, o melhor a fazer é tirar o craque para preservar o coletivo. Isso também exige coragem e maturidade. Em tempos de individualismo e metas agressivas, talvez seja hora de resgatar valores simples — como cooperação, lealdade, esforço conjunto. E, quem sabe, entender que a beleza do gol está menos no brilho individual e mais na trama coletiva que o antecede. Assim como no futebol, na gestão o gol não é fim, mas consequência.
Adm. Paulo Machado