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Sindicato dos Administradores no Estado do Rio Grande do Sul

O lazer e o desastre

O lazer e o desastre - O SINDAERGS – Sindicato dos Administradores no Estado do Rio Grande Sul, representa os Administradores gaúchos.

A adrenalina que move o turismo de aventura também carrega uma sombra muitas vezes ignorada: a negligência. Em meio à expansão desse mercado — que conquista jovens, famílias e influenciadores em busca de experiências extremas ou paisagens desafiadoras — está um fator preocupante e silencioso: a ausência de uma cultura sólida de prevenção de riscos.

Casos recentes, como a morte de Juliana Marins, de 26 anos, ao escalar um vulcão na Indonésia, o trágico acidente com um balão em Praia Grande (SC) e a fatalidade envolvendo um casal que morreu afogado após a queda de um carrinho de golfe em um lago em São Francisco de Paula (RS), não são eventos isolados. São sintomas de uma estrutura frágil e, muitas vezes, despreparada para garantir a segurança dos usuários.

Embora o setor movimente bilhões anualmente e cresça impulsionado pelas redes sociais e pelo apelo do contato com a natureza, a regulamentação e a fiscalização ainda não acompanham esse ritmo. No Brasil, por exemplo, a norma ABNT NBR ISO 21101 — que trata da gestão da segurança em atividades de turismo de aventura — é de adoção voluntária e permanece fora do radar da maioria dos operadores.

Muitas empresas seguem atuando sem planos de contingência, sem protocolos mínimos de segurança e, sobretudo, sem preparo técnico para lidar com situações de emergência. Isso ocorre, em parte, por falta de exigências legais mais firmes, mas também pela ausência de gestores qualificados à frente dessas operações. É fundamental que os responsáveis por empreendimentos turísticos, especialmente aqueles que envolvem algum grau de risco, sejam pessoas com formação, preparo técnico e visão de responsabilidade social.

A construção de um turismo de aventura seguro exige políticas públicas articuladas, certificações obrigatórias, fiscalização constante e uma base técnica sólida. Mas também demanda algo mais difícil de mensurar: compromisso com a vida. Operadores e administradores devem compreender que seu papel vai muito além do entretenimento — eles são guardiões da integridade física de seus clientes.

Nesse contexto, o turista também tem responsabilidade. A escolha consciente de prestadores devidamente habilitados, a busca por informações sobre os riscos da atividade e a avaliação do próprio preparo físico são atitudes que salvam vidas. No entanto, essas decisões só podem ser tomadas se houver comunicação de risco clara e transparente. O consumidor precisa saber, com precisão, quais são os perigos envolvidos, quais equipamentos são obrigatórios e qual é o grau de exigência da atividade proposta. Informação incompleta ou mal comunicada é, na prática, omissão.

Gestão de riscos não é um detalhe operacional: é a base para que o turismo cumpra seu papel de forma plena. Não basta emocionar; é preciso proteger. Quando falhamos nisso, experiências que deveriam ser memoráveis se transformam em tragédias evitáveis.

O setor precisa amadurecer e rápido. Que as perdas recentes sirvam de ponto de virada, não apenas como luto, mas como motivação para uma profunda revisão de condutas. Só assim conseguiremos construir um turismo mais humano, profissional, sustentável e comprometido com aquilo que é mais valioso: a vida.

Adm. Jorge Avancini
Foto da Capa: Gerada por IA.