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Sindicato dos Administradores no Estado do Rio Grande do Sul

Saudade do tempo em que a maior ofensa no futebol era um saco de xixi

Saudade do tempo em que a maior ofensa no futebol era um saco de xixi - O SINDAERGS – Sindicato dos Administradores no Estado do Rio Grande Sul, representa os Administradores gaúchos.

Houve um tempo em que ir ao estádio era um ritual quase sagrado: vestir a camisa do time, encontrar os amigos no trajeto, tomar uma cerveja gelada ou um refrigerante quente e gritar até perder a voz. O maior risco? Talvez levar um saco de xixi no peito, jogado de uma arquibancada adversária, ou discutir acaloradamente sobre um pênalti mal marcado. Parecia absurdo, mas ainda era parte de um universo onde o futebol era paixão, não guerra.

Hoje, infelizmente, vivemos uma realidade bem diferente. O futebol, que deveria ser símbolo de pertencimento e emoção coletiva, tem sido sequestrado por uma minoria barulhenta e violenta, que transforma o esporte em campo de batalha. As arquibancadas, as ruas, as estações de trem e metrô, os arredores dos estádios – tudo virou zona de conflito.

Em Porto Alegre, recentemente, um torcedor colombiano do Atlético Nacional foi esfaqueado e morto por outro torcedor do mesmo clube, nas imediações da Rua Lima e Silva com a Rua da República. No Chile, dois jovens torcedores – um de apenas 13 anos e outro de 18 – foram assassinados na entrada do estádio, em um episódio que nos choca não apenas pela brutalidade, mas pela completa banalização da vida em nome de uma rivalidade sem sentido.

Esses episódios nos mostram que a intolerância e o ódio tomaram conta do que deveria unir. De adversários dentro das quatro linhas, passamos a ver torcedores tratando-se como inimigos mortais. Essa inversão de valores não pode ser naturalizada, tampouco tolerada.

É urgente que confederações, federações e clubes assumam a responsabilidade. Não bastam mais campanhas de marketing com frases bonitas: é preciso ação concreta. Ações que vão desde a identificação e punição exemplar dos agressores até a suspensão de torcidas organizadas envolvidas em violência. Também é fundamental reforçar a segurança nos estádios, colaborar com as autoridades e promover, continuamente, campanhas educativas de cultura de paz.

Contudo, há um passo ainda mais profundo e necessário: a profissionalização da gestão esportiva. A maioria das entidades ligadas ao futebol ainda funciona com estruturas amadoras, políticas ou improvisadas, sem planejamento, inovação ou visão de longo prazo. É fundamental tornar essas gestões mais profissionais, capazes de lidar com os desafios do século XXI, em especial os ligados à segurança, inclusão e sustentabilidade.

Nesse contexto, destaca-se a importância do profissional com formação em Administração. O administrador é preparado para atuar tecnicamente na organização, introduzindo processos modernos de gestão, inovação, planejamento estratégico e tomada de decisão racional. É este perfil profissional que pode contribuir para transformar os clubes e entidades esportivas, criando ambientes mais seguros, transparentes e comprometidos com o bem coletivo.

O futebol precisa voltar a ser o que sempre foi: um espaço de alegria, convivência e identidade. As famílias devem poder frequentar os estádios sem medo. Os amigos devem poder torcer por times diferentes, lado a lado, sem que isso represente risco à integridade física. O grito de gol deve ser mais alto que qualquer insulto. O amor ao clube não pode justificar o ódio ao outro.

Tenhamos esperança. Que a civilidade supere a selvageria. Que voltem os tempos em que a maior ofensa era um saco de xixi e o maior perigo, uma derrota no clássico.

Adm. Paulo Machado